quarta-feira, 12 de agosto de 2009

A vaidade do sol e da lua olha só como tudo terminou .Vale a pena ler até o fim












O Sol e a Lua
O sol era um belo rapaz, muito forte e inteligente. A lua era uma índiazinha bonita e delicada. Conheceram-se numa festa da tribo, uma grande festa iluminada por fogueiras e vaga-lumes. O Sol viu a Lua e ficou apaixonado por ela. A Lua viu o Sol e também ficou apaixonada por ele. E começaram a namorar.
Só que a Lua era muito orgulhosa e gostava de ser importante. Não era a qualquer festa que ela ia, não. Nem a qualquer passeio. O Sol era mais camarada e aceitava qualquer convite. Assim, enquanto a Lua ficava geralmente fechada na oca, o Sol andava por tudo quanto era lugar, divertindo-se a valer. Caçava, pescava, nadava. A Lua não andava nada contente com este jeito de viver. Queria que ele fosse mais preocupado, que selecionasse melhor suas amizades. Era, porém, orgulhosa e nada dizia. O Sol notava que ela não estava satisfeita e não sabia o motivo. Havia, também, outra coisa que aborrecia a Lua: ela era muito vaidosa e gostava de se enfeitar, de se pintar. O Sol não se cuidava muito Tanto o Sol insistiu com a Lua para que lhe contasse o motivo de sua tristeza, que, um dia, a Lua, pondo de lado o orgulho, contou o que se passava: - Você deveria ser mais vaidoso e mais exigente! Queria que se enfeitasse mais, que escolhesse suas amizades com mais cuidado e também os seus passeios! - Por que? Gosto de ser simples, de conviver com todos, de ir a qualquer lugar! - Mas não está certo! Assim, não ficarei contente. Quero que meu namorado seja mais importante do que os outros! O Sol ficou muito triste. Como gostava da Lua, pôs-se a pensar no que ela havia dito. Começou a evitar os amigos, indo pescar, caçar e nadar sozinho, com ares de importante. Começou a ficar vaidoso, também. Enfeitava-se com as mais lindas penas. A Lua, por sua vez, vendo que o Sol estava ficando mais enfeitado do que ela, tratou logo de conseguir coisas mais valiosas. E pedia ao pai: - Papai, vou a uma festa e não quero usar os meus enfeites velhos! Quero que o senhor consiga para mim as penas mais bonitas que possam existir! - O que está acontecendo? Você foi sempre vaidosa, é verdade. Mas agora! Não faz mais nada senão enfeitar-se! E eu, então, vivo procurando penas, dentes, nem sei o que mais! Sempre que a Lua lhe pedia mais enfeites, ele queria saber o motivo de tanta vaidade. Tanto insistiu, que ela acabou contando. Ele ficou louco da vida. Então, por causa do Sol, ele, que já não era muito moço, andava pela selva que nem um condenado, procurando enfeites para a filha! Bufou, xingou, praguejou e continuou a fazer a vontade da Lua. Não podia, porém, ver mais o Sol. Estava com uma raiva louca daquele rapaz que só sabia enfeitar-se.
Certo dia, o pai da Lua estava perto de um rio, caçando pássaros para conseguir penas, pois logo haveria uma grande festa. O Sol devia ir e andava procurando, da mesma forma, conseguir penas bonitas. Embora o pai da Lua estivesse com raiva do moço, os dois continuaram com a amizade. - O senhor também está caçando? perguntou o Sol, assim que se avistaram. - Sim, respondeu o índio, meio carrancudo. Vai haver uma grande festa e minha filha quer ir bem enfeitada. - É verdade. Também vou. É por causa disso que estou aqui. Quero conseguir penas bonitas para fazer belos enfeites. - Aproveitando a ocasião, você poderia também conseguir penas e outros enfeites para a Lua, não é mesmo? Afinal, não seria mais do que a sua obrigação. Já não sou tão novo para andar atrás dessas coisas. - Realmente, mas a culpa não é minha. Ela não aceita nenhum presente meu! É muito orgulhosa e diz que a obrigação é do senhor! Continuaram caçando por ali. É claro que o Sol, sendo mais moço, levava vantagem, acertando sempre as mais bonitas.
Aí surgiu no céu, voando devagar, majestosamente, uma ave muito bonita. Devia ter vindo de longe, pois eles a conheciam. - Olhe! - gritou o Sol. Veja que ave maravilhosa! - Não a conheço! - exclamou o outro. - Vai ver que Tupã a enviou para que eu me enfeite com as suas penas. - Se Tupã a enviou, foi para minha filha ser a mais linda da festa! A ave desceu e pousou numa árvore muito alta. Agora, eles podiam ver melhor suas cores. Eram lindas. Todas as cores do arco-íris estavam ali representadas. Os dois ficaram de boca aberta, tão distraídos, que se esqueceram de caça-la. O Sol gritou: - Preciso pegá-la! Tem de ser minha! - Eu vou pegá-la! - desafiou o pai da Lua. Cada um preparou depressa o arco e a flecha e apontaram para a pobre ave distraída e tranqüila. De repente, ela voou, ganhando altura. - Lá vai ela! - gritou o Sol. - Vai fugir! - exclamou o pai da Lua, desesperado. Atiraram as flechas. O Sol, embora fosse melhor atirador do que o velho, por qualquer motivo, errou. Sua flecha passou longe. A flecha do outro acertou em cheio. Porém a ave, como já estava a grande altitude, foi cair do outro lado do rio. Quando viu que havia errado, o Sol ficou louco da vida. Deu um chute numa pedra e urrou de dor. O velho, ao contrário, ficou muito contente, pulando de alegria. - Eu não disse que Tupã havia enviado a ave para a minha filha? - falou. - Então não foi Tupã, sendo eu teria acertado! - E você se julga melhor do que eu? - gritou o pai da Lua, mostrando que n&aatilde;o estava para brincadeira. O Sol, que era esperto, percebeu que podia criar inimizade com o velho, o que, é lógico, não seria interessante. Assim, procurou acalmá-lo: - Eu não quis dizer isso! Bem, vou buscar a ave para o senhor. - Nada disso! Se minha filha não quer favores seus, eu também não quero. Eu mesmo vou buscá-la. - Mas é preciso atravessar o rio e não temos nenhuma canoa aqui! Tem de ser a nado! - O que você pretende dizer com isso? Então, não sei nadar? O velho era teimoso e não quis saber de nada. Pulou na água e foi nadando. No meio do rio é que a coisa aconteceu. Não agüentou e começou a se afogar. O Sol saltou na água e nadou rapidamente na direção do pai da Lua. O velho já estava nas últimas. O Sol chegou bem a tempo, colocou-o a salvo na margem e foi buscar a ave. - Eis a sua ave! - disse o Sol. - Minha, não! Sua! - exclamou o velho. - Como assim? - admirou-se o Sol. O velho olhou para ele, ficou uns instantes em silêncio e depois, destacando bem as sílabas, como se o outro fosse meio surdo, disse: - A ave é sua e não minha. Sabe por que? Ficou mais um pouco em silêncio e explicou: - Se você me salvou a vida e ainda foi buscar a ave, tem mais direito a ela do que eu! - De jeito nenhum! Não posso aceitar! Fique com ela! Os dois permaneceram naquilo um bom tempo. Aí, o velho teve uma idéia, mas não a revelou ao Sol. - Está certo. Levarei a ave. Vamos! - disse. Quando chegaram à aldeia, o velho propôs dividir as penas entre o Sol e a Lua. O Sol ficou horrorizado. Nunca! A Lua ficou brava como uma onça. O que? Usar as penas da mesma ave? Nem sonhando! O Sol que ficasse com a ave inteira! Ele não aceitou, nem a Lua, e a ave foi jogada num canto da oca. O Sol foi embora, zangado.
Ao saber que o namorado salvara seu pai, a Lua ficou ainda mais aborrecida. Não tinha dúvida de que o Sol ia ficar mais vaidoso do que nunca. Quando toda a aldeia soube do caso, prestou as maiores homenagens ao herói. Só se falava no Sol. A Lua, para se acalmar, foi dar uma volta pela redondeza. Ao passar perto de um abismo, cuja profundidade ninguém sabia, ouviu uns gritos que vinham lá de dentro. Olhou cuidadosamente para ver o que era. Logo abaixo, agarrada a umas pedras, estava a mãe do Sol, já no fim de suas forças. Tinha-se distraído e caíra no abismo. O que fazer? Se fosse até à aldeia, não voltaria a tempo de salvar a velha índia. Rapidamente, a Lua apanhou um cipó, amarrou-o a uma árvore ali perto e, agarrando-se ao cipó, desceu até as pedras. Arriscando a vida, conseguiu amarrar a mulher pela cintura. Subiu e começou a puxar a mãe do Sol. Não teria agüentado aquele peso, mas, sentindo-se perto da salvação, a mulher agarrou-se com unhas e dentes nas saliências do abismo e ajudou a Lua a salvá-la.
Na aldeia, o Sol estava entre uma roda de rapazes, contando como salvara o pai da Lua. A mãe dele, então, chegou e contou o que havia acontecido. Logo, a Lua começou a ser homenageada e, com todo o orgulho possível, ela disse ao Sol: - Agora estamos iguais, não estamos? Continuaram a namorar, porém a disputa era maior do que antes. Um não sabia o que fazer para se destacar mais do que o outro. A Lua e sua família andavam tão preocupadas, que nem se lembraram da ave largada num canto da oca. Ficou ali uma porção de tempo, sem que ninguém percebesse.
A tal festa muito importante ia realizar-se na aldeia. Grandes preparativos estavam sendo feitos, muita bebida e muita comida. O pai da Lua estava às voltas com novos enfeites e o Sol também andava pela selva com a mesma intenção. Mais tarde, a Lua recebeu os seus enfeites e preparou-se o melhor que pôde. Quando o Sol chegou, ela estava muito bonita. Ele, muito distinto e elegante, atraía olhares. - Como os seus enfeites são lindos! - ele disse. A Lua ficou toda orgulhosa, mas ele completou: - Só que os meus são muito mais! - Os seus? Ah, ah, ah! - caçoou a Lua, olhando para o Sol com cara de compaixão. O pai dela, muito aflito, vendo a discussão que já se formava, andava de um lado para outro, sem saber o que fazer. E os dois vaidosos falavam, nenhum querendo perder. O velho, ansioso para acabar com aquilo, andava e olhava por todos os cantos. Acabou encontrando a ave, um pouco escondida por uns cestos: - Olhem! Aquela ave que nós caçamos! Ainda está aqui! A Lua olhou, horrorizada: - Como é que pôde ficar esquecida? O Sol aproveitou par fazer um comentário maldoso: - Aquela ave? Não acredito! Então, Lua? Não é só a vaidade pessoal que tem valor, a oca também merece um pouco de cuidado! Há muito tempo que você não faz uma limpeza por aqui, hein? - Calma, calma! - pedia o velho, arrependido da sua descoberta, segurando a ave pelos pés. Eles estavam discutindo, quando a ave criou vida. O pai da Lua, vendo-a mexer-se, deu um grito que atraiu todos os índios da aldeia. Ouviu-se um estrondo e se formou uma fumaceira que não deixava ver nada. Quando voltaram a enxergar, no lugar da ave estava Tupã em pessoa. Não havia índio que não tremesse! Imponente, impressionante, olhou para os dois jovens e disse: - Vocês são muito vaidosos e orgulhosos. Não é possível o que estão fazendo. Só se preocupam em ser notados! Só desejam riquezas! As penas da ave que enviei eram mágicas! Se tivessem sido repartidas entre os dois, vocês teriam deixado de ser assim. Mas a vaidade venceu. Pois vão ser ricos e adorados por todos. Você, Sol, será transformado num rei adornado de ouro. E você, Lua, será transformada numa rainha coberta de prata. Imediatamente, Tupã e os dois moços sumiram. E, a partir daquele momento, o Sol e a Lua começaram seu passeio pelo céu.





3 comentários:

  1. Oi Vi, tudo bem?
    Belo texto ...e esse eu não conhecia
    BJusss

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  2. Gostei muito da lenda do sol e da lua...
    a verdade é que quanto mais temos mais queremos é preciso vigiar-nos, sermos prudentes !!! Para não deixar o orgulho vencer a simplicidade que existe em nós !

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  3. Quando eu comecei a ler pensei em desistir ,cm sempre eu faço, mas ai não me permiti e fui ate o fim e valeu muito a pena é muito interessante este texto...

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